A trajetória de
Marcelo Yuka já é bem conhecida do público. Músico, compositor, poeta, ativista social, todas essas facetas do ser humano se cruzam e fazem do artista uma importante referência no cenário cultural e político brasileiro. Desde a fundação do Rappa, passando pela carreira solo na banda Furto, até suas últimas experimentações com a música eletrônica e a literatura, sua arte sempre lançou um olhar atento para as questões sociais do país.
O episódio de violência que o deixou paraplégico deixou marcas profundas no ser humano, mas aquilo que poderia ter se tornado apenas motivo de rancor e pessimismo se transformou em ação, transformação. Fundou o B.O.C.A, Brigada Organizada de Cultura Ativista que promove a educação e a cultura em entidades carcerárias. Trabalhou em trilhas sonoras, participou de eventos musicais, programas de televisão, palestras, foi tema de documentário, sempre expondo com coragem sua experiência e procurando levar uma mensagem de otimismo, sem deixar de tocar na ferida dos problemas sociais de seu país.
Em 2007 marcou presença na primeira edição do Visões Periféricas com um curta que será exibido na abertura deste ano e que era divulgado como a primeira produção da Companhia Brasileira de Cinema Barato. Junto com outros realizadores cariocas da periferia lançou um manifesto que declarava que qualquer pessoa tinha o direito de fazer um filme e trazia os dez mandamentos da Companhia. Entre eles, a produção com qualquer tipo de console, todos serem multiplicadores, todos fazerem tudo, parcerias, princípios que tinham muita sintonia com os filmes que chegavam ao Visões em 2007 e que até hoje são encontrados em muitas produções que chegam ao festival. Se a Companhia não teve vida longa, algo comum dentro do panorama de altos e baixos que o audiovisual brasileiro sempre viveu, o manifesto ainda se mantém atual e pode ser visto circulando pela internet até hoje.
Em um momento importante para o país e para o mundo, em que a população sai as ruas para manifestar seus anseios, suas insatisfações mas sobretudo sua esperança, é que nos parece muito justo e oportuno homenagear um artista e cidadão que soube tão bem traduzir em sua vida e obra essas qualidades.